segunda-feira, 30 de maio de 2011

Negociações com Miguelito

- Lis, cadê meu short azul?
- Qual?
- Aquele que eu uso pra jogar bola. Você viu?
- Sim, eu o usei ontem. Deixei em casa. Amanhã te entrego, ele e aquele vermelho
- Tu estás com o vermelho também?! Agora só restou aquele preto com o fundo rasgado. E agora, como vou jogar bola?
- Não vai, amor. Fica aqui comigo.
- Eu marquei com o pessoal, não posso deixar furo. Amor, por favor, usa os meus shorts mais surrados, esses são exclusivos da bola, se eu ficar sem eles não dá para ir.
- Miguel, meu bem, vamos ser realistas. Você tem apenas três shorts para jogar futebol, não que eu tire conclusões de detalhes bobos, mas eu acredito que uma pessoa que gosta realmente desse esporte tem mais vestimentas que isso, ou então, não se preocupa com roupa, vai com o primeiro farrapo que encontrar.
- Não entendi. O que a quantidade de shorts tem relação com isso? Meus shorts surrados são ruins para correr! Todo mês tu compras shorts novos para malhar, por que não os usa?
- Uso sim, quando estou na academia. Aqui na sua casa eu prefiro usar os seus, porque me sinto mais à vontade. Eles são folgadinhos e relaxantes, parece que estou nua. As minhas roupas da academia são muito coladas, e eu não vou gastar dinheiro comprando roupas para usar em casa.
- Eu aprovo a idéia de você ficar nua aqui em casa, não vejo problema algum.
- Ah, ta beleza. Eu fico nua se você desistir de jogar bola hoje! Certo?!
- Essa proposta tentadora, amor.  Só a fez porque sabe que eu fui convocado pelo pessoal a comparecer nessa bola que marcaram.
- Miguelito, meu bem,  vou te dizer uma coisa de todo meu coração: o povo te quer por causa do pós-jogo. Você é todo lindo e serelepe, mas não é um craque no futebol. A sua presença é indispensável no bar, porque é você que anima a galera.
- Então tu sabes que eu não posso faltar, Lis!
- Vamos fazer um acordo? Você liga para os seus amigos e diz que não vai jogar, mas que estará no bar no horário combinado.
- E qual vai ser minha recompensa por mentir descaradamente?
- Ora, amor, te deixarei lá pra você beber e falar besteiras com seus amigos. Se quiser posso ir te buscar, já que não terá condições de dirigir.
- Só isso? E o trato de você ficar correndo nua aqui em casa?
- Eu não falei nada de correr nua! Disse apenas a palavra: nua. Vamos ficar nos amando até o momento de te deixar lá, tá bom?!
- Agora sim. Estou muito satisfeito com essa negociação, mas escuta amor... Você não quer correr nua aqui por casa? Eu acho uma ótima idéia!
- Ah, Miguel, para de graça! (risos)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Desejos mornos

 
Mariana ficou um pouco assustada e surpresa. Lembrava muito bem seu último encontro com aquele rapaz que tanto a encantava, porém nunca mais havia pensado nele.
 Mentira.
Mariana ainda pensa nesse rapaz, com toda graça e ternura possível, mas agora a situação é diferente. Seus pensamentos não são exclusivamente direcionados a ele, ou seja, sua lembrança vem apenas quando escuta seu nome, e isso acontece esporadicamente. Faz certo tempo que não ouvia sua voz, imaginava tê-la esquecido. Doce engano. Reconheceu até o som da sua respiração. Palavras de saudações foram ditas, seguidas de adeus. E nada mais.
No final da noite, Mariana estava distraída cantarolando boas músicas e, de repente, lembrou da conversa momentânea com seu antigo romance. Espantou-se. Como esqueceu tão rápido aquela ligação? Em outro momento não pararia de remoer lembranças inacabadas. Ficou estática por alguns segundos, depois relaxou.
Mariana compreendeu que os sentimentos, até os mais singelos e puros, podem ser superados quando não há chances de vivê-los. Entretanto, esquecê-los não é possível quando indiretamente lhe fazem bem.